Encontro e Esperança – Testemunho vocacional-missionário



No contexto do Mês Missionário, publicamos o testemunho vocacional-missionário do Pe. Anderson Souza, svd, filho da Arquidiocese de Mariana e que, atualmente, exerce o ministério presbiteral nos Estados Unidos da América.

Pe. Anderson Luis de Souza, svd

Quem sou eu?

Chamo-me Anderson Luis de Souza, mineiro da cidade de Ponte Nova-MG, filho da Paróquia da Santíssima Trindade, sacerdote e religioso-missionário da congregação dos Missionários do Verbo Divino, mais conhecidos como Verbitas, congregação religiosa presente no Brasil há 125 anos.

Fiz os votos religiosos em Juquiá-SP no dia 08 de janeiro de 2003, os votos perpétuos e a ordenação diaconal em São Paulo, em 8 de março de 2008, e a ordenação presbiteral junto com Pe. Ademar Lino, na Paróquia Santíssima Trindade, em Ponte Nova, no dia 01 de maio de 2009, e cheguei ao meu destino missionário no dia 01 de maio de 2010. Porém, não posso deixar de mencionar de que fui parte do seminário de Mariana (seminário menor), nos anos de 1991-1992, mas por diferentes situações tive que deixar o seminário, e continuar os estudos em Ponte Nova e discernir qual era o chamado de Deus em minha vida.

Vocação Religiosa-Missionária.

Recordo-me que no ano de 1995, ocorreu no Brasil, o COMLA V (V Congresso Missionário Latino Americano) realizado em Belo Horizonte, e que trazia como tema: "O Evangelho nas Culturas. Caminho de Vida e de Esperança". Ao participar da Missa de encerramento, realizado na praça do Papa, veio ao meu coração este desejo de servir a Igreja como missionário, mas por onde começar? Qual Comunidade de Vida possui o carisma missionário? Foram perguntas que se fizeram presentes, mas que adormeceram até o ano de 1998, ano em que surgiu uma oportunidade de conhecer e fazer parte da formação na congregação dos Missionários do Verbo Divino (Sociedade do Verbo Divino/Societas Verbi Divini)

Por que a Sociedade do Verbo Divino?

Para responder a esta pergunta, me vem à mente um dos primeiros textos bíblicos em latim que a classe teve que traduzir para o jovem Pe. Roberto Natali, o prólogo do evangelho de São João em que nas linhas deste evangelho está presente este versículo: “Verbum caro factum est...” (Jo. 1, 14), e a congregação do Verbo Divino é inspirada neste versículo do prólogo, Jesus, o Verbo Divino, que se encarnou na história humana. A partir destas palavras, Padre Arnaldo Janssen, quis dar o nome de Sociedade do Verbo Divino, com o intuito de que todos os membros professos se animassem a serem “Sócios” do Verbo Divino, e anunciassem o evangelho nos diferentes lugares em que fossem chamados. E foi nesse interim que fui convidado a fazer parte da congregação, e fui aceito para começar o aspirantado (propedêutico) sem fazer os encontros vocacionais, não me perguntem o porquê, pois não sei a resposta. Mas, creio, que foi a “Mão de Deus”, no transcurso da minha história vocacional.

Formação na perspectiva do Encontro

É parte do processo formativo da congregação a nível da Zona Pan-americana, terem as Comunidades de Formação inseridas nos bairros, o que possibilita para o formando um processo de inserção nas realidades onde a comunidade se faz presente.

Para os que tem em mente o Seminário como uma grande casa, com uma grande capela, isso pode ser um choque, mas um choque, que proporciona a perspectiva do encontro com as pessoas, de maneira especial os que vivem nas periferias físicas e humanas da sociedade. Também uma comunidade com presença de pessoas de diferentes lugares, que trazem na bagagem diferentes formas culturais. Confesso que isso para mim foi um choque, porém um momento que me proporcionou conhecer bem a comunidade religiosa, na qual estava ingressando.

Todas as etapas de formação da congregação são realizadas em cidades e estados diferentes, no meu caso foram estes os lugares: Aspirantado (propedêutico – Juiz de Fora, MG), Postulantado (filosofia – Belo Horizonte), Noviciado (ano espiritual – Juquiá, SP), Juniorato (Teologia 1º e 2º ano – Didema, SP), Juniorato - Programa de Formação Transcultural/PFT (inserção Missionária – Dubuque, IA – escola de inglês e Paróquia de São José, Livingston, TX ano pastoral), ambas nos Estados Unidos, Juniorato (3º ano de Teologia, preparação para os votos perpétuos e discernimento para os pedidos de missão – São Paulo, SP), Professo Perpétuo (4º ano de Teologia –já no exercício do diaconato- Diadema, SP), Diaconato (Paróquia Santo Arnaldo Janssen – Diadema, SP e Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, São Paulo, SP)

Saliento, que em todas as etapas de formação, nas comunidade formativas do Verbo Divino, o formando é convidado a discernir qual o sentido do chamado para este tipo de carisma. É claro que ao entrar na congregação, o primeiro pensamento, é estudar e se preparar para ser ordenado padre, porém no ritmo próprio da Vida Religiosa, devemos discernir sobre o significado de ser religioso-consagrado, e em uma congregação missionária, que é sair da “zona de conforto” e ir ao encontro do outro, algo que se começa ao compreender o significado de estar em uma comunidade formativa, onde o discernimento vocacional fará que alguns possam discernir pela vida religiosa-consagrada, como ministros ordenados, e outros como irmãos consagrados.

Essa dimensão da formação na Vida Religiosa não é uma invenção recente, mas que existe desde os tempos dos Santos Antão, Pacômio, Bento ou com os fundadores das ordens mendicantes, seja com São Domingos e São Francisco, que é beber da fonte presente no Evangelho: “...vós sois todos irmãos.” (Mt. 23, 8)

Um Missionário Ad Gentes

O documento conciliar Ad Gentes, já começa nas primeiras linhas, no parágrafo 2o: “A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na «missão» do Filho e do Espírito Santo” (AG 2). Aquele que é enviado em missão primeiramente não o faz em nome próprio, mas em nome da Igreja, e não vai para anunciar o próprio evangelho ou o próprio reino, mas sim o EVANGELHO DO PAI e o REINO já anunciados por Jesus.

Desde do início da formação, tivemos essa preparação de sair ao encontro da outra pessoa, mesmo que este sair, seja na dimensão geográfica, linguística, cultural, ou mesmo religiosa. Um sair que traz medo.  No meu caso, que já se fazem 10 anos que estou fora do país, nos Estados Unidos da América, este sair se fez de diferentes modos, por exemplo, na primeira paróquia em que fui nomeado vigário paroquial, dedicada ao Imaculado Coração de Maria, majoritariamente afro-americana, tive que aprender e escutar sobre as situação de segregação racial de muitos paroquianos, situações vividas mesmo dentro de instituições religiosas. Após dois anos e meio, fui para outra missão na província, no serviço de vigário paroquial, na Paroquia do Santo Nome de Jesus, uma paróquia de presença de imigrantes hispânicos, muitos vindos do México, e com eles, aprender sua cultura, seu modo de viver a religiosidade e costumes, aprender a escutar e a chorar com eles, nas diferentes situações de violência e medo vividos por muitos, além da missão paroquial, atuar também como capelão da Radio Maria Houston, onde o grande número de ouvintes eram Hispânicos.

Assim, após dois anos e meio na Paróquia do Santo Nome, a comunidade me pede para ir para outros lados, para a Flórida, na cidade de Tallahassee, para atuar como pároco, em uma paróquia universitária, dedicada a Santo Eugênio, paróquia de grande presença de afro-americanos, africanos, hispânicos, asiáticos, além de colaborar com o ministério hispânico em duas paroquias diocesanas, e a missão junto aos estudantes universitários.

Após seis anos na Paróquia de Santo Eugênio, a comunidade me pede para “subir a Serra”, para assumir também a missão de pároco na Paróquia de São Paulo Apóstolo, que está na periferia da cidade de Fort Worth, Texas, onde há também a presença de imigrantes hispânicos, e os chamados “Irish Travelers”, que são os ciganos de descendência Irlandesa.

Estados Unidos da América é LUGAR de MISSÃO?

Já no início do 4º ano de Teologia soube que meu destino missionário seria os Estados Unidos, mais precisamente no sul do país, e quantas vezes, ao dizer que sou missionário nos EUA, algumas pessoas, sejam cristãos leigos e leigas, alguns religiosos ou religiosas e mesmo alguns sacerdotes, que torcem o nariz. Pois é difícil para alguns deles, entenderem que existe uma realidade missionária em terras norte americanas.

É claro que seria irracional dizer, que seja a mesma situação em países da África, Ásia, ou América do Sul, seria um erro afirmar isso, porém nestas terras norte americanas existem outros tipos de necessidades, não somente de carência financeira, mas também, de carência de quem escute, a carência de sacerdotes ou religiosos, que atuem nas comunidades de imigrantes.

Conclusão

Ir ao encontro do outro, não é somente encontrar as realidades parecidas com as nossas, mas ir ao encontro do diferente, que é considerado, na maioria das vezes, incômodo. Ir ao encontro do outro (is to know how to say goodbye) é saber dizer adeus, e também preparar-se para uma outra novidade que surge na caminhada.  Ir ao encontro do outro é ter a certeza de que onde estamos inseridos devemos ser sinais do Deus da vida, que chama a todos, homens e mulheres, a viverem em plena comunhão.

“Ante a Luz do Verbo e o Espírito da graça, afastem-se as trevas do pecado e a noite da incredulidade. E que Viva o Coração de Jesus, nos corações de todas as pessoas. Amém.”

(Jaculatória da Congregação do Verbo Divino sempre rezada pelos seus membros)












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