A terra do meu coração é uma terra apta ao cultivo?

 

Neste mês em que a Igreja no Brasil nos ajuda a repensar o nosso modo de acolher, cultivar e produzir os frutos da Palavra de Deus em nossa história, precisamos, cotidianamente, nos questionarmos acerca de nossa relação com a Palavra de Deus. Enquanto discípulos missionários de Jesus, acolhemos o mandamento do Senhor: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Este imperativo do Senhor está diretamente ligado à nossa vocação missionária de proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo (cf. DA 30).  

Contudo, neste breve artigo, desejo-lhes motivar na reflexão quanto à nossa acolhida da Palavra de Deus. É fato que acolhemos o pedido de Jesus em anunciar o Seu Evangelho, e também é verdade que acolhemos esse pedido do Senhor com muita alegria e disposição. Prova disto é que muitos são os nossos trabalhos de evangelização, isto é, de anúncio do Evangelho. Mas, e nós - discípulos missionários – estamos, de fato, vivendo uma relação de amor com a Palavra de Deus? Essa inquietação nunca poderá sair do nosso horizonte, e é por isso que em nossa vida espiritual devemos nos questionar sempre quanto à nossa profundidade relacional com a Palavra de Deus. 

Por vezes, em meio aos afazeres, trabalhos e obrigações impostas pela rotina, e até mesmo diante de tantos “ativismos” nas frentes dos trabalhos de evangelização, podemos correr o risco de tornar a nossa própria espiritualidade “mecânica e superficial”. Dessa forma, dedicamos muito tempo aos nossos projetos, sejam eles pessoais ou comunitários, e nos esquecemos de cultivarmos a amizade com Deus. Desse modo, apesar de nos denominarmos discípulos de Jesus, podemos nos ceder ao grave risco de nos esquecermos da oração, da meditação da Palavra de Deus e, portanto, correr o risco de não nos configurarmos inteiramente ao Senhor.  

Para vencermos essa tentação, devemos habitualmente nos perguntarmos sobre a “fertilidade do nosso coração”. Assim, o autêntico discípulo deve discernir se o seu coração está como um “terreno pedregoso”, no qual não há espaço para o enraizamento da Palavra de Deus; ou ainda se há “muitos espinhos” que dificultam o germinar e o crescimento da semente do Evangelho (cf. Mc 4, 3-9). Talvez, em cada um de nós, existam “pedras e espinhos” que precisam ser arrancados para que a semente do Reino possa germinar saudavelmente em nosso coração.

Portanto, é sempre oportuno repetir a questão: a terra do meu coração é uma terra apta ao cultivo? Caros amigos, procuremos fazer frutificar a graça batismal em nossas vidas, valorizando a Palavra de Deus, que é o próprio Cristo. Enquanto discípulos missionários do Senhor, o nosso testemunho do Evangelho também se dá quando o nosso coração é lugar para a manifestação e concretização do projeto de Deus. Ao anunciarmos a Boa Nova de Jesus Cristo, nunca nos esqueçamos de também nos deixarmos ser transformados pela Palavra de Deus, como canta o Pe. Zezinho: “a Palavra do Senhor, depois que ela passou, nada mais será do jeito que já foi”. Que Deus nos ajude a sermos generosos na acolhida, no anúncio e no testemunho da Sua Palavra, fonte de vida e santidade a todos nós. O nosso coração, sem dúvidas, deve ser o primeiro “terreno de missão”.

Moisés Galinari Tôrres

1º ano de Teologia – Seminário São José