Bíblia, Encontro e Missão

     

      Durante o mês de setembro, todos os anos, no Brasil, nos é proposto um tempo de aprofundamento bíblico. É, sem dúvida, uma pertinente oportunidade para recordamos o valor que a Sagrada Escritura tem para nós cristãos. De fato, o Concílio Vaticano II já afirmara: “A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo do Cristo o pão da vida, e o distribui aos fiéis” (DV, 21).

            Todavia, mesmo diante desta realidade, para muitos cristãos católicos, a Bíblia ainda continua a ser um baú fechado e empoeirado, cujo tesouro ainda é bastante pouco explorado, um grande livro do qual são conhecidos uns poucos versículos que ocasionalmente vêm à mente. O mês de aprofundamento no estudo bíblico quer, mais do que nos ensinar a ler a Bíblia, recordar que a pregação da Palavra é parte fundamental da missão de Cristo que a Igreja perpetua até o final dos tempos. Ora, foi o Senhor mesmo quem ordenou aos Apóstolos e a nós: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos mandei. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,19-20).

            Fazer discípulos de Jesus Cristo sempre foi – e no mundo de hoje ainda é – torná-lo conhecido mediante o anúncio de sua pessoa e de sua obra salvífica. São Jerônimo, dos primeiros séculos do Cristianismo, já dissera que “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Ora, desta pequena sentença, muitas coisas podem ser evidenciadas. Primeiramente, quem nos fala na leitura orante da Palavra é o seu próprio autor: o Senhor vivo; tão vivo que continua a nos dizer uma palavra também “viva e eficaz” (cf. Hb 4,12). Depois, não há outro meio mais autêntico para se chegar ao conhecimento de Cristo que mediante a escuta de sua Palavra. Nela encontramos o testemunho das primeiras comunidades cristãs, seu encontro com o Jesus histórico, que por sua humilhação foi feito Senhor da glória em sua ressurreição, pelo Pai, no Espírito Santo. Estes testemunhos nos ajudam a confrontar nossa vida e a vida de nossas comunidades, também hoje, com o projeto sonhado pelo Senhor.

Uma evangelização que se pretenda verdadeira não pode partir de outra realidade que não seja a pregação da Palavra. Tornar Cristo e seus valores conhecidos na realidade de hoje é missão que se faz cada vez mais urgente no mundo! Diante do mundo que prega o consumismo, a busca pelo poder, o lucro desmedido, a libertinagem sexual, a perda de valores essenciais como a família e outras realidades, nós, cristãos, somos – ou deveríamos ser! – como aquela “voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Is 40,3/ Mt 3,3b). Mas só quem tem uma vida de oração e intimidade com o Senhor será capaz de compreender sua proposta para o mundo de hoje. É aí que Bíblia, vida e missão se encontram! Missão não é simplesmente colocar a Bíblia debaixo do braço e sair pelas casas falando de Deus. Isso é um tipo de missão, sem dúvidas, ainda muito importante! Entretanto, missão mais urgente nos cenários contemporâneos é aquela do testemunho. Não o testemunho dos grandes palcos, mas o testemunho da vida cotidiana: nas famílias, nas escolas, nos locais de trabalho... Disso já nos recordava o Papa São Paulo VI ao dizer que “o mundo não precisa de mestres, mas de testemunhas”. Só uma vida marcada pela experiência do encontro com Jesus, mediante sua Palavra, é capaz de, no cotidiano da vida, testemunhar um Cristo-Irmão, fraterno, próximo, companheiro, Deus-com-a-gente.

Neste mês da Bíblia, cada cristão sinta-se convidado a encontrar a si mesmo e aos irmãos no confronto com a Palavra de Deus! Como diz um canto popular dos grupos de reflexão bíblica: “Quando a vida e a Bíblia se encontram, o povo começa a andar em rumos de liberdade, que fazem a história mudar”. Deixemo-nos transformar pela Palavra de Deus, para que n’Ele nossos povos tenham vida!

Tiago Rafael J. da Silva

2º ano de Teologia