Tempo de conversão
“Como um pai tem
piedade de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem, porque
Ele sabe de que é que somos feitos e não se esquece de que somos pó” (Sl 102,
14)
No próximo dia 26, toda
a Igreja introduz em seu coração o espírito quaresmal, o espírito de
recolhimento, contemplação e conversão. Na quarta-feira de cinzas, o intróito
para esse tempo de silêncio, somos impelidos a mudarmos de vida, a olharmos
para o homem velho que há muito existe em nós e a contemplarmos o homem novo
que podemos nos tornar. Nesse dia, somos
lembrados “que somos pó e ao pó da terra voltaremos” (cf. Gn 3,19) para que
nosso corpo se torne, pelas mãos de Deus, glorioso e não mais pereça.
As cinzas colocadas
sobre nossas cabeças servem para lembrar que não pertencemos a este mundo e
que, portanto não devemos nos apegar às coisas mundanas. De fato é um desafio,
uma vez que achamos que a felicidade verdadeira está constituída aqui, mas isso
é mera ilusão, pois nossa morada eterna é junto de Deus e somente Ele nos
basta. As cinzas também nos inclinam para o arrependimento dos pecados, olhando
para Deus e vendo como somos pequenos e precisamos de sua bondade e
misericórdia. Esse ato vem desde os judeus que se sentavam em cinzas como sinal
de arrependimento dos pecados.
Nesse dia singular,
somos orientados à pratica do jejum,
e esse por sua vez é de grande importância, pois é uma forma de nos educarmos,
de termos controle sobre nós mesmos, nos orientando para uma melhor escuta de
Deus por meio da virtude cardeal, a temperança. É recomendado a nós, que esse
gesto venha acompanhado da partilha com os que mais necessitam.
Também devemos
intensificar nossas orações, e rezarmos pela conversão da humanidade e para o bem da Igreja, expressão máxima
de nossa fé, e da qual tudo parte. Também somos convidados à esmola, isto é, darmos sem interesse,
sem querer receber algo em troca, isso quebra o nosso egoísmo e nos faz olhar
para os outros que estão ao nosso lado e assim sentirmos compaixão deles, como nos
lembra a campanha da fraternidade desse ano “Viu, sentiu compaixão e cuidou
dele.”
Portanto, ao mesmo
tempo em que esse período de graça nos faz encontrar com nós mesmos e assim
encontrar nosso Mestre que mora em nosso coração, somos também levados ao
encontro com os nossos irmãos, vivendo a caridade fraterna. Devemos imitar o
gesto do bom samaritano que não se fez cego e colocou seus dons a disposição
daquele que sofria. O encontro com nós mesmos nos faz encontrar com os outros,
porque quem faz a experiência com Deus não consegue ficar fechado em si mesmo,
mas se abre para levar essa maravilha ao próximo. A quaresma é o tempo propício
para esse encontro com Cristo e com os irmãos.
Daniel Kenid Assis Medeiros
1º ano de Filosofia
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