Penitência quaresmal, uma abertura para a vida em Cristo



A centralidade da fé da Cristã é o Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor). Assim, a fim de viver bem essa tríade pascal, a Igreja se prepara ao longo de quarenta dias para vivenciar o grande mistério litúrgico, espiritual e teológico. É no Tríduo Pascal que o povo cristão recorda, de forma mais intensa, o grande acontecimento da salvação redentora de Cristo. Nesses dias o povo católico faz memória da Nova e Eterna Aliança firmada sobre o Sangue do divinal Cordeiro, imolado pelos nossos pecados. Os quarenta dias de preparação para a celebração dessa grande festa a Igreja chamou de quaresma, tempo que é marcado pela oração, caridade e jejum.

Comumente o período quaresmal é associado às penitências que os fiéis livremente se submetem. Entretanto, o significado da penitência quaresmal extrapola os atos externos de piedade, sem deixar, contudo, de valorizá-los. De nada valem as mortificações corporais se o cristão não tirar proveito espiritual de tudo isso. Nesse sentido, a Igreja convida os fiéis a viver uma penitência também interior.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC), relata que a penitência interior deve significar uma reorientação da vida a Deus, isto é, uma aversão ao mal seguida de uma abertura à graça divina. Ainda segundo o catecismo, a penitência “implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça” (CIC 1431). Todavia, essa conversão deve vir acompanhada de uma profunda dor e tristeza em decorrência dos pecados cometidos contra Deus e sua divina misericórdia. Tais sentimentos os Padres da Igreja chamaram de animi cruciatus e compunctio cordis, ou seja, “aflição do espírito” e “compunção do coração”.

Uma penitência verdadeiramente sincera levará o penitente a um arrependimento das faltas cometidas e, consequentemente, despertará nele o desejo de reaproximação com o seu Criador. A união ferida pelo pecado deverá buscar sua cura através do sacramento da reconciliação, uma vez que é através dele que o fiel poderá pedir o perdão a Deus pelas faltas cometidas. Feito isso, o cristão descobre a grandeza do amor de Deus ao passo que também é atormentado pelo medo de pecar e assim romper novamente a união tão recentemente restaurada. De acordo com o Catecismo, “o coração humano converte-se, ao olhar para Aquele a quem os nossos pecados trespassaram” (CIC 1432). Nesse sentido, São Clemente de Alexandria orienta que “Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo e compreendamos quanto Ele é precioso para o seu Pai, pois que, derramado para nossa salvação, proporcionou ao mundo inteiro a graça do arrependimento”.

Impulsionado pelo salmista que pede ao Senhor que crie nele “um coração puro e um espírito decidido” (cf. Sl 51 (50), 12) somos orientados a uma abertura transcendental, ou seja, uma disposição espiritual para a graça que o próprio Deus concede de forma especial no período quaresmal. É nesse sentido, portanto, que na Quarta-feira de Cinzas a Igreja motiva a todos a converter e crer no evangelho, pois esse é um tempo favorável para isso. Assim, interpelados pela graça que nos vem, vivamos bem esse tempo que se aproxima para que, também nós, após este caminho de preparação possamos ressuscitar com o Cristo em sua Páscoa.

Pedro Henrique Mendes
2º ano de Teologia -Etapa da Configuração
 

Comentários

  1. Excelente artigo!
    Obrigado seminarista Pedro Henrique por nos ajudar a refletir sobre os maravilhosos efeitos da conversão durante os Exercícios Quaresmais em preparação para a Páscoa.
    Deus te abençoe abundantemente.
    No Verbo Divino.
    PE. Anderson, SVD.

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