A Pascoa do Senhor Jesus que deve ressuscitar em nossos corações.
O medo
paralisa a esperança. Quando isso acontece, estagnamos, ficamos impedidos de ir
ao encontro do Projeto de Deus para a nossa vida, as nossas realidades, não
damos testemunho da Luz que ilumina e dá sentido aos nossos sonhos e ações.
Hoje,
vivemos tempos difíceis e de incertezas, e desejar saber como será o amanhã se
assemelha a atravessar a noite escura do medo. Por um lado, enxergamos a
pandemia, que insiste em não passar completamente e segue fazendo milhares de
vítimas, causando dores e luto silenciosamente. Por outro, convivemos com o
flagelo da guerra na Ucrânia e em outros países, marcado, quase sempre, pelo
jogo de interesses dos “senhores do mundo” que geram morte e tristeza. O perfume
da morte penetra nossas narinas, vai diretamente ao nosso coração e paralisa
nossos passos. Sentimo-nos impotentes, com mãos e pés atados.
Para
onde seguir? Onde e como está nossa esperança de tempos melhores? Algo
semelhante deve ter acontecido com os seguidores de Jesus após aquela
sexta-feira pesada e escura na vida deles. Eles experimentaram o desencanto e a
desilusão; a tristeza e o abandono. Mas não paralisaram. No encontro com Jesus,
descobriram que a “Esperança não decepciona” e avançaram na certeza de que
Cristo, o crucificado, ressuscitou. Com isso, eles nos ensinam que é preciso
vencer as “sextas-feiras” escuras da vida, superar a incerteza de um futuro
traumático e duvidoso e caminhar em direção à Luz, sinal de nossa
esperança.
A
noite da Páscoa é o limiar entre a noite e o dia, a morte e a vida, a tristeza
e a alegria. O limiar entre o desânimo e a esperança, entre o vazio e a
plenitude. É no romper do dia que nascem a vida e a esperança. As mulheres, que
cuidaram de Jesus até o fim, levaram perfume para perfumá-lo e, ao chegarem ao
sepulcro, inalaram o cheiro bom da vida que dali brotava e se tornaram as
primeiras testemunhas do mistério da Ressureição. Elas se arriscaram, tiveram
coragem, superaram o medo e constataram que aquele que buscavam entre os
mortos, agora vive plenamente!
As
respostas que buscamos não se encontram no sepulcro da morte, mas sim na vida,
que é dom de Deus! Temos que fazer este movimento em direção à vida! A noite da
Páscoa é marcada pelo movimento: move-se a pedra, movem-se as mulheres e
move-se Pedro! É movendo-se que se remove o medo e se ressignifica a morte!
Esse movimento se deu no coração das mulheres que, mesmo diante do vazio e do
silêncio, acreditaram no que viram e ouviram e anunciaram aos outros. E a força
presente em seu anúncio moveu o coração de Pedro, levando-o até o sepulcro,
fazendo-lhe crer no que o Mestre lhes havia dito que ressuscitaria ao terceiro
dia (Lc 9, 22).
A
Páscoa pede que cada um de nós aprenda a crer. O acreditar coloca a vida em
movimento e vence o medo! Acreditar na Ressureição é reconhecer que as dores, o
medo, a morte apontam para a cruz, mas a cruz de Cristo
transforma tudo isso em vida, abrindo um novo tempo, forjando em nós uma nova
pessoa: transformada pela fé pascal, curada em seu interior, redimida e
ressuscitada para uma vida nova em Cristo. Ao abraçar a cruz, Jesus deu sentido
aos nossos sofrimentos. Esta é a experiência fundamental que devemos fazer na
festa da Páscoa. Com o auxílio e pela força do Espírito Santo, à luz do Ressuscitado,
transfiguram-se nossos sentimentos, move-se tudo que existe de negativo
internamente e faz-se a passagem à luz, renovando nossa imutável esperança,
pois onde havia luto, agora há consolação; onde havia morte, agora há
vida.
Assim
como fez com as santas Mulheres e o apóstolo Pedro, o Senhor nos ajude a
superar o medo de anunciar. E como fazer isso? A seguinte história contada por
um teólogo nos ajuda a compreender bem esta tarefa que o Senhor nos confia.
“Pedro
pergunta ao Senhor Ressuscitado: É realmente a tua opinião, Senhor, que devemos
pregar o Evangelho a todas as pessoas? Mesmo a estes pecadores que o
martirizaram? Sim, Pedro, responde o Senhor. Ofereça-lhes primeiro o Evangelho.
Vá em busca daquele homem que cuspiu na minha cara. Diga-lhe que eu o perdoo.
Procure o homem que me colocou a coroa de espinhos na testa. Diga-lhe que tenho
uma coroa pronta para ele no meu reino, se ele aceitar a salvação. Procura o
homem que tirou a cana da minha mão e me bateu com ela. Dar-lhe-ei um cetro, e
ele se sentará comigo no meu trono. Procure o homem que me bateu na cara com a
sua mão. Diga-lhe que o meu sangue o limpa de todo o pecado e que também foi
derramado por ele. Procure o soldado que empurrou sua lança no meu lado e lhe
diga que há um caminho mais próximo do meu coração do que este!”
Assim,
fazendo a experiência da Páscoa de Jesus Cristo, poderemos melhor suportar as
sextas-feiras pesadas de nossas vidas e das realidades em que vivemos, mover
nosso coração em direção ao outro, especialmente aos que vivem nas periferias,
tornando-nos mais sensíveis, disponíveis e solidários, inspirando o perfume da
salvação que impregna e dá sentido ao nosso ser e agir. Esse é o caminho do
discípulo missionário(a)!
Uma
feliz Páscoa a todos e todas!
Dom
Esmeraldo e padre Roberto Veras
Disponível em:
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-04/o-medo-paralisa-a-esperanca.html
Comentários
Postar um comentário