As Bem-Aventuranças: verdadeiro Caminho de Discipulado e de Missão


As Bem-Aventuranças: verdadeiro Caminho de Discipulado e de Missão

 

            O cristianismo, instituído através da encarnação de Deus entre os homens, é marcado, institucionalmente pelo chamado ao seguimento à Cristo, por meio de uma total entrega de vida, em atenção a este chamado pessoal: “Vem e segue-me”. Perante tal mandato de Cristo aos seus, cada um destes precisou passar por uma etapa de atenção à Palavra e de total entrega pela missão, tendo como exemplo os atos do próprio Cristo. Neste sentido, é possível dizer que a vida dos cristãos se define através da missão, através da transfiguração da própria vida, em vista da evangelização e do anúncio do Reino dos céus, edificado pelo próprio testemunho de Deus, encarnado entre nós. Por conseguinte, este anúncio se transformou na missão primeira dos discípulos de Cristo, seja através da palavra e, principalmente através da vida.

 

            Por sua vez, Cristo foi o primeiro a dar o exemplo, e diante das inúmeras dificuldades dos dias atuais, nós também somos convidados a seguir os Seus passos. Naturalmente, a fé é o principal elemento para este seguimento; porém a escuta à própria Palavra se torna indispensável ferramenta para a formação do discipulado. Assim, uma das passagens de Cristo que nos toca diretamente, no âmbito da missão e do discernimento de nossa consciência de cristãos, é a passagem transmitida a nós pelo texto de Mateus, em seu capítulo quinto, referente às Bem-aventuranças. Esta é uma passagem de grande importância, no que se refere à devida conscientização de evangelizadores, de maneira que aqueles que se identificam com esta missão, precisam passar, também por essa identificação com o Reino, de maneira a perceber os seus dons e se disponibilizar à missão. Nisso, o próprio Papa Francisco afirma no início de sua carta, Gaudete et Exsultate: “A palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se sinônimo de ‘santo’, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade”.

            Por conseguinte, na tentativa de disseminar os elementos mais centrais desta passagem, será utilizada como guia o próprio texto de Gaudete et Exsultate, a fim de que, através das palavras do Papa Francisco, possamos ouvir a transmissão das palavras do próprio Cristo. Dessa maneira, Ele inicia por nos instigar a viver a pobreza em espírito, em vista de alcançarmos o Reino dos Céus; isso porque aquele que está apegado aos bens temporais, não tem condições de se entregar em vista da missão à qual Deus pretende nos instituir. O chamado de amor ao próximo só pode ser vivido por quem é pobre em espírito e tem condições de abrir mão de si mesmo em vista da necessidade do outro. Por outro lado, o coração que já se sente rico, “cheio de si mesmo”, não abre espaço para o mover do Espírito e muito menos se preocupará em discernir a vontade de Deus para a sua vida. Da mesma forma, aos mansos, Jesus também faz a promessa de salvação, pois estes “possuirão a terra” através do mover do próprio Espírito, discernindo a sua missão nesta terra e anunciando a Salvação para todos.

            Jesus, ainda promete, aos que choram, a consolação, pois estes encontrarão em Cristo o caminho de superação aos sofrimentos da vida e a consolação, através da perspectiva da Salvação. Os que choram, choram por causa das dificuldades que são temporais e, por isso, a perspectiva do Reino, será um verdadeiro consolo ao coração dos que sofrem. Consequentemente, os que têm fome e sede de justiça serão saciados, pois a salvação em Cristo se dará para todos; e todas as dores, e todos os anseios, e toda a perseguição que se demarca através do Antigo Testamento e, posteriormente, no Novo Testamento, encontrará sua justificação em Cristo, através do seu Sangue que seria e fora derramado em vista da Salvação de todos.

            Diante disso, no parágrafo 82 de Gaudete et Exsultate, o Papa nos adverte que o “ter sede de”, ou o fazer, justiça não se identifica com o planejamento de vingança, pois, pelo contrário, o chamado de Cristo é ao perdão – [..] perdoai até setenta vezes sete (Mt. 18,22). Este chamado de Cristo se dá, na verdade, pelo fato de que, antes de nos mover ao perdão, é Ele mesmo que nos transforma em uma multidão de perdoados. É Ele, por primeiro, que nos transmite o perdão. Desta maneira, o Senhor também nos convida à vivência da Misericórdia – “Felizes os misericordiosos porque alcançarão a misericórdia”. Este deve ser o sinal daquele que fez a experiência do amor de Deus. Só quem experimentou, por primeiro, o amor e o perdão de Deus em sua vida, terá as condições necessárias e encontrará sentido na vivência deste amor, desta Misericórdia. Consequentemente, só conseguirão de vive-la, aqueles que forem puros de coração; pois, a estes é prometido o dom de ver a Deus.

            Jesus, ainda faz a promessa aos pacificadores de serem chamados filhos de Deus e, aos que são perseguidos por causa da justiça, o Reino de Deus; por sua vez, a grande proposta de Cristo, aos seus, vem adiante, que é a importantíssima missão de sermos Sal e Luz do mundo, enquanto sinais de sua Palavra e da promessa do Reino para todos. E, desta forma, é o que, exatamente a Igreja de Cristo, na figura do seu Papa e dos seus fiéis (clero e leigos), se tornou no mundo; Sal e Luz, sinal vivo de Cristo e do seu Reino. Por sua vez, os Santos e a figura da Virgem Maria são de grande importância para a transmissão ao mundo deste cuidado de Deus para com os seus. E, levando em conta a própria missão relacionada a cada uma destas bem-aventuranças, não poderíamos ter melhor exemplo de vivência segundo a vontade Deus, do que o testemunho da própria Virgem Maria, que adequou a sua vida à vida do Cristo e buscou, na escuta de sua Palavra, ser sinal de sua missão e do verdadeiro seguimento em cada um destes ensinamentos do texto de Mateus.

            Maria é quem se fez, inteiramente pobre diante de Deus e da missão que Ele resguardava para a sua vida – “[…] Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc. 1,38b); buscou em seu Filho a consolação para as suas dores; teve sede da justiça de Deus para o seu povo; agiu com Misericórdia, tendo inteiro amor para com a sua Missão e para com cada um dos que se fariam discípulos de seu Filho; se fez, também pacificadora, através do silêncio e da espera em Deus. Maria se fez um verdadeiro exemplo de cristã e, por isso se tornou Mãe de todos os homens, intercessora de todos os que se fizeram servos de Deus; e, por isso, recebeu, também o título de Maria, a Mãe da Igreja. Que, levando em conta a centralidade da Palavra de seu Filho para a vivência de nossa fé, possamos, também nós, fazer dos nossos passos caminho de seguimento a Cristo, a fim de que, pelo exemplo e intercessão da Virgem e Mãe, Maria, possamos, buscando pela vontade do Pai, discernir a missão que Ele mesmo desejou para as nossas vidas, contando sempre com o exemplo de humildade e perseverança de Maria e seguindo os passos de seu Filho Jesus Cristo, a partir dos valiosos ensinamentos de sua Palavra.

 

Maycon A. G. Rodrigues – 3º ano de Teologia






































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