Caridade: expressão autêntica da Missão


Estamos vivenciando um período na historia mundial marcado por um sistema econômico que impõe um modelo de sociedade onde o ter, o consumir, o acumular é mais importante que o ser. O individualismo causado pelas transformações da sociedade muitas vezes impede que vejamos os sofrimentos dos nossos irmãos que são vítimas desse sistema e dessa mentalidade atual. A sociedade se vê presa em seus próprios interesses e torna-se cada vez mais difíceis expressões autênticas de amor ao próximo, não um amor interesseiro, mas um amor comprometido e embasado no ensinamento do Cristo, um amor do qual nos fala Bento XVI em sua encíclica Deus caritas est, “O amor é ‘divino’, porque vem de Deus e nos une a Deus, e através desse processo unificador, transforma-nos em um nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só.”

Atendendo aos apelos do Papa Francisco, para que a Igreja seja missionária e comprometida com a sociedade, a campanha da Fraternidade desse ano nos ajuda a refletir sobre o papel da Igreja na sociedade. Somos chamados como cristãos a reagir a qualquer tipo de exclusão, violência e violação da dignidade de tantos irmãos que sofrem por causa do egoísmo de muitos. Mas como reagir a esse cenário? A resposta é simples, através da caridade. “Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber.” (Mt 25, 35). Que tipo de fome e que tipo de sede temos presente hoje? Fome e sede de justiça; fome e sede de atenção; fome e sede de uma palavra amiga, de um abraço sincero e fraterno, etc. Mais que o pão material somos chamados a oferecer, com nossa atitude, o pão da presença, do aconchego e da solidariedade. O serviço, de que nos fala a CF 2015, é justamente um serviço que brota da expressão autêntica da missão, a caridade, pois é através desta que encontramos o fundamento essencial para uma vida cristã que conjugue a oração e a práxis libertadora.

O tempo da quaresma tem muito a nos ensinar, pois são dias em que refletimos mais assiduamente sobre o nosso relacionamento com o mundo e voltamos nosso olhar também para nós mesmos. É nesse tempo também que somos colocados diante das práticas quaresmais, a saber: jejum, esmola e oração. O jejum é a expressão do nosso desapego às coisas materiais e o desejo de configurarmos a nossa vida àqueles que nada têm; a oração é o dever de todo cristão e um gesto de solidariedade para com aqueles que precisam das nossas orações para suportar o fardo pesado que, muitas vezes, a vida precária e desigual as submetem; e a esmola  que é sinônimo de caridade, amor doação, um gesto concreto em favor dos menos favorecidos, que resume em si mesma as outras práticas desse tempo tão precioso na vida da Igreja.

Nós enquanto cristãos missionários de Jesus Cristo, temos uma sublime missão que consiste em amar. A caridade é a missão do cristão e é a partir dela que tomamos um novo vigor para partir em socorro a tantos irmãos que sofrem, por isso não há missão sem caridade e não há caridade sem missão, ambas se completam e se tornam uma só expressão do Evangelho vivo de Cristo.

Pai amoroso olhai por tantas pessoas que estão a margem da sociedade, que são excluídas do convívio social e “dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs: inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que a humanidade se abra à esperança de um mundo novo”. Oração Eucarística VI- D

Allan Júnio Ferreira – 1º ano de Teologia

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