São José: modelo de discipulado e de vida cristã
Foto: Página do Seminário São José no Facebook |
“Celebre a José a corte celeste, prossiga o louvor o
povo cristão: só ele merece à Virgem se unir em casta união” (Hino das
Primeiras Vésperas da Solenidade de São José)
Estamos
vivendo o tempo quaresmal, este longo período de preparação para a Páscoa no
qual somos convidados a voltarmo-nos totalmente a Deus e produzirmos frutos de
conversão. Animados pela Palavra de Deus que nos apresenta a oração, o jejum e
a caridade (cf. Mt 6, 1-6.16-18) como caminho de santificação, pelo qual nos
aproximamos de Deus, dos irmãos e de nós mesmos, desejamos “correr ao encontro
das festas que se aproximam cheios de fervor e exultando de fé” (Oração da
Coleta do Quarto Domingo da Quaresma).
Neste período quaresmal, marcado pela
introspecção e pelo silêncio, somos convidados a, no dia 19 de março,
alegrarmo-nos e celebrarmos com entusiasmo a solenidade de São José, esposo da
Virgem Maria e Patrono da Igreja Universal. Com este espírito, queremos olhar
para São José como modelo para nosso discipulado e vivência cristã.
Nas
Sagradas Escrituras encontramos poucas referências à São José (cf. Mt
1,18-2,23; 13,55; Lc 1,27; 2,4; 2, 41-52) e não encontramos em nenhum desses
relatos alguma palavra pronunciada por São José. Porém, toda a vida do Pai
amoroso de Jesus pode ser resumida na feliz expressão de São Mateus: José, o
esposo, era justo (cf. Mt 1,19). São José não é chamado de justo por ser apenas
um bom cumpridor das leis de seu tempo, mas porque “tem as suas raízes nas
águas vivas da Palavra de Deus, não cessa jamais de dialogar com Deus e, por
isso sempre produz fruto”[1].
Portanto, a justiça de José não é como a dos escribas e fariseus (cf. Mt 23),
mas consiste em aderir sempre a vontade de Deus, “ele vive a lei como
evangelho, procura o caminho da unidade entre direito e amor. E assim está
preparado interiormente para a mensagem nova, inesperada e humanamente
inacreditável, que lhe virá de Deus.” [2]
Essa justiça foi que lhe permitiu, ao descobrir que Maria se encontrava grávida
antes de unirem pelo casamento, decidir não denunciá-la publicamente, mas
repudiá-la em segredo a fim de não difamá-la (cf. Mt 1, 18-19), uma vez que
“ama-a, mesmo no momento de grande ilusão”[3].
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Enquanto
se decidia José é surpreendido por uma intervenção divina. O Anjo do Senhor
aparece em sonho a José e lhe revela que a criança esperada por Maria fora
concebida pela ação do Espírito Santo e, por isso, José devia receber Maria
como esposa. A mensagem do Anjo certamente deixou José inquieto e
desconcertado, ela exigia “uma fé excepcionalmente corajosa. É possível que
Deus tenha verdadeiramente falado? [...] Podemos, pois, imaginar como ele terá
então lutado, no seu íntimo, com esta mensagem inaudita do sonho.” [4]
Porém, ainda que rodeado de inúmeras perguntas José se deixa convencer pela
palavra do Anjo: “não temas!” (cf. Mt 1, 20) e, ao despertar, assume Maria como
esposa e assume a tarefa de dar um nome ao menino, assumindo-o judicialmente
(cf. Mt 1,21). Mais uma vez, portanto, contemplamos a justiça de José, uma vez
que “seu permanecer interiormente alerta para Deus torna-se espontaneamente obediência.
Se antes procurava adivinhar com as próprias capacidades, agora sabe a coisa
justa que deve fazer. Sendo homem justo, segue a ordem de Deus”[5].
Dessa
forma, não devemos pensar São José como um homem apático e indiferente diante
de tudo o que se passava ao seu redor. Ao contrário, ao olharmos para São José
devemos ver um homem forte e corajoso, de uma fé ardente e tão viva que se
permite dialogar com Deus, buscar compreender qual o projeto de Deus para sua
vida. Sua justiça, seu coração tão enraizado em Deus lhe permite ver as coisas
de outro modo e encontrar sentido até mesmo para as adversidades (cf. Mt 2,
13-23). Certamente São José foi um homem feliz, tendo ao seu lado a Virgem
Maria e nosso Senhor Jesus Cristo, o Divino Salvador do gênero humano. Devemos
pensar nos sorrisos de São José na casa humilde de Nazaré ao contemplar sua
Sagrada Família, ao ensinar a Jesus seu ofício, ao ter a consciência de ser
totalmente disponível a Deus. São José, na sua humanidade, vivendo seus medos,
suas angústias e questionamentos soube acolher Deus na sua vida, soube afinar
seu coração com o coração do Senhor.
Neste
tempo quaresmal, olhemos para São José como modelo para a nossa busca de
conversão e santidade. Vivamos a verdadeira justiça que se concretiza fazendo a
vontade do Pai. Tenhamos a coragem de sermos humanos, de questionar, de
dialogar com Deus de modo verdadeiro, para que ele transforme nosso medo em fé,
nossa angústia em confiança e nossos questionamentos em preces. A exemplo de
São José acolhamos a Deus e seu projeto de amor para nossas vidas. Assim, com
alegria, acolhamos o convite da Igreja: celebre a José!
Carlos Heitor Fidélis
4º ano de Teologia
[1] RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: a infância. São Paulo:
Planeta, 2016. p. 40
[2]
Ibid., p.40.
[3]
Ibid., p.40.
[4]
Ibid., p.41.
[5]
Ibid., p.44.
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