Relatório do encontro com Padre João Paulo
No último dia vinte de outubro, motivados pela mensagem do
Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, aconteceu um encontro on-line do COMISE da Arquidiocese de
Mariana, com a presença do Pe. João Paulo, assessor Arquidiocesano para a
Dimensão Missionária na referida Arquidiocese, com o qual foi possível
refletirmos sobre o sentido da missão e a proposta da novena missionária, por
meio da qual é destacado, neste ano, o testemunho de missionários e
missionárias da compaixão e da esperança. Entretanto, é mister realçarmos que
no ano passado, o Mês Missionário foi celebrado com o grande e doloroso impacto
pela chegada da pandemia da Covid-19 em nossas vidas, com a dor e o sofrimento
de tantos que foram acometidos por ela e outros que não resistiram e fizeram a
páscoa definitiva à casa do Pai. Não muito diferente, atualmente, a pandemia
prossegue e, cada vez mais, tem evidenciado e ampliado o sofrimento, a solidão,
a pobreza e as injustiças que tantos já padeciam. Portanto, é necessário,
nestes tempos sombrios, o testemunho de missionários e missionárias da
compaixão e da esperança
A partir desta fala do querido Papa Francisco, Pe. João Paulo
nos inseriu no significado da verdadeira missão, enfatizando, como é também
descrito significativamente na oração de Dom Helder Camara, que missão é
partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos
fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fôssemos
o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno
mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas não devorar
quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e
encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e
voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo.
Nesta perspectiva, a partir do tema da missão deste ano somos
convidados a nos colocar diante de um projeto que não é nosso, mas de Deus.
Neste sentido, a partir da compreensão da nossa vida, vamos chegando à
conclusão de que ela é uma grande missão, pois é um chamado feito pelo próprio
Deus. Nessa lógica, recai sobre nós o compromisso de entendermos que a nossa
vida deve ser serviço para os outros. Quando compreendemos isso conseguimos
mergulhar no mistério do chamado de Deus que nos coloca em lugares diferentes,
confiando a nós o seu propósito missionário.
O interessante é percebermos, nessa oração de Dom Helder
Camara, que em primeiro lugar, é preciso partir, não apenas no sentido de saída
territorial, mas no sentido de partir daquilo que somos. Em outras palavras, é
estar livre para viver esse serviço. Não é preciso deixar tudo, mas se lançar
nas mãos de Deus, sobretudo, no lugar onde estivermos. Consequentemente, é preciso
também vencer o egoísmo que nos fecha no nosso “Eu”. A missão ultrapassa essa
realidade.
Por outro lado, Dom Helder nos convida a olharmos para a
humanidade. Sem dúvida, falar de humanidade, é falar de uma realidade que
ultrapassa nossa realidade física, pura e simplesmente. É abandonar o egoísmo e
se lançar na intersubjetividade, no convívio com as outras pessoas, indo ao
encontro daqueles que mais necessitam. Neste sentido, a pessoa humana é chamada
a sair de si, de uma estrutura fechada em si mesmo, para se lançar no projeto
para o qual Jesus Cristo o chama e que lhe confia.
Ao contrário do que é compreendido pelo senso comum, missão
não se resume em andar quilômetros, sair para lugares distantes, mas é,
sobretudo, sair de si e Evangelizar quem estar ao nosso lado, no dia a dia.
Sendo instrumentos de Deus, somos convidados, ainda, a ajudar o outro a também
se reconhecer como tal, como participante deste projeto missionário que cada um
de nós somos chamados.
Outra ideia que é, equivocadamente, compreendida na missão é
aquela de “levar Jesus” às pessoas. É importante termos claro que o missionário
não é aquele que leva Jesus às pessoas, Jesus já está com ela, onde quer que
ela esteja. Entretanto, é dever do missionário fazer com que a pessoa tenha
consciência da presença de Jesus e do chamado missionário que Ele também a faz.
Na novena missionária deste ano, somos convidados a refletir
sobre os mais diversos temas, contudo, somos também impulsionados a refletir,
sobretudo, o tema central: Jesus Cristo é missão. Nessa perspectiva, ao dizer
que Jesus Cristo é missão somos chamados, primeiro, a ter consciência de que
precisamos fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus. Todavia, esse
encontro significa, para nós, aprofundarmos no conhecimento de quem é Jesus. A
partir dessa experiência, é importante nos lançarmos dentro desta novena,
deixando que Jesus, missionário do Pai, possa, de fato, estar presente em nossa
realidade.
Ademais, todos nós, enquanto cristãos, somos missionários e
o nosso objetivo deve ser aquele de tornar Jesus Cristo mais conhecido e amado.
Neste sentido, ao conhecermos, verdadeiramente, Jesus chegaremos a um outro
ponto que é crucial: falar daquilo que “vimos e ouvimos”. Por isso que essa
novena tem o objetivo principal de nos ajudar a enxergar, como ponto principal,
a presença de Cristo entre nós, nas famílias, na educação, na população em
situação de rua, nos migrantes, indígenas e na missão além-fronteiras. No
contexto atual, como vai nos dizer o Papa Francisco, há urgente necessidade de
missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar
profeticamente que ninguém é salvo por si mesmo. Neste tempo de pandemia,
perante a tentação de mascarar e justificar a indiferença e a apatia em nome de
um distanciamento social saudável, a missão de compaixão é urgentemente
necessária por sua capacidade de fazer desse distanciamento recomendável uma
oportunidade de encontro, cuidado e promoção.
Logo, no itinerário da proposta da novena missionária para
este ano, mais do que nunca, somos convidados a continuar testemunhando tudo o
que vimos e ouvimos, tendo consciência de que ninguém se salva sozinho, como vai
nos dizer a oração missionária deste ano: “Deus Pai, Filho e Espírito Santo,
comunhão de amor, compaixão e missão. Nós te suplicamos: Derrama a luz da tua
esperança sobre a humanidade que padece a solidão, a pobreza, a injustiça,
agravadas pela pandemia. Concede-nos a coragem para testemunhar, com ousadia
profética e crendo que ninguém se salva sozinho, tudo o que vimos e ouvimos de
Jesus Cristo, missionário do Pai. Maria, mãe missionária, e São José, protetor
da família, inspirem-nos a sermos missionários da compaixão e da esperança”.
Comise 2021
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